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  • Foto do escritorEdson Tavares

O RADIOJORNALISMO OPINATIVO: NEUTRALIDADE OU ISENÇÃO?

O rádio passa por transformações em sua formatação, o jornalismo opinativo, por certo, requer ajustes, pois as fontes que alimentam a opinião do radiojornalismo também podem estar disponíveis aos ouvintes




O rádio, principalmente aquele transmitido em Amplitude Modulada, notabilizou-se pelo espaço dado ao jornalismo. Pela sua característica de interatividade com o público ouvinte, tendeu, nos últimos anos, a produzir um jornalismo opinativo, influenciando, assim, na formação de opinião do seu público, enquanto recebe também a contribuição opinativa dos receptores. A informação radiofônica tem cada vez mais adquirido um caráter de via de mão dupla, o que, de certa forma, enriquece esse tipo de trabalho.


Geovanne Santos: jornalista, educador e palestrante

Entrevistamos Geovanne Santos, jornalista paraibano com premiada atuação nos veículos de comunicação mais importantes do Estado. São 15 anos de carreira, tendo passado por sete emissoras de rádio. Além de comunicador, é palestrante e educador. Atualmente, apresenta um radiojornal na Lagar FM 87.9, em Campina Grande, e cursa Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional pela UEPB.


O entrevistado possui, como se vê, larga experiência radiofônica, notadamente neste momento de transição que esse meio de comunicação atravessa. Inicialmente no rádio convencional, mas aos poucos enveredando por outros espaços tecnológicos, vem se sobressaindo nesse nicho jornalístico.


EDSON TAVARES – Como surgiu sua opção pelo radialismo?

GEOVANNE SANTOS – Eu quero cumprimentar você, Edson, inicialmente; abraçar a todos que vão ter acesso a este material. Dizer da enorme alegria de falar sobre esta temática, porque me apaixonei por rádio, principalmente pelo veículo de comunicação em si, dada a

"O bom radiojornalista é instado a falar sobre todos os temas a qualquer momento."

cultura de nós, sertanejos – sou natural de Souza, no sertão do Estado –, termos naquele veículo o único veículo de comunicação popular e acessível de fato para as nossas demandas. Ainda sou do tempo em que nós recebíamos correspondência de parentes que estavam fora, por meio do rádio. O Jornalismo praticado no ambiente radiofônico era, para a gente, a única forma de acesso a notícias da segurança pública e da política principalmente.


EDSON TAVARES – Ao longo de sua carreira, que principais modificações você pontua no rádio, e como se deu a sua própria adequação a essas mudanças?

GEOVANNE SANTOS – Eu, quando iniciei em uma emissora de rádio, necessitava de um espaço para realizar um treino, uma locução, e o horário que nós utilizávamos era o da “Voz do Brasil”, habitualmente das 19 às 20 [horas] – atualmente está flexibilizado –, e aí, quando a emissora era retirada do ar – porque essa era uma opção –, nós nos dedicávamos ali a

"Imparcialidade, em Jornalismo, não existe. Existe uma diferença entre ser imparcial e ser isento. Eu opto por isenção."

realizar a gravação de spots comerciais e também de algumas reportagens que necessitavam ser gravadas. Tivemos que nos adequar: sair da cartucheira, nos adequar especificamente ao software, ao playlist, basicamente, aos softwares de edição de áudio, e, principalmente, compreender a interação com o ouvinte, que deixou de ser tão somente por meio de uma linha telefônica, e passou a ser principalmente por meio das redes sociais.


EDSON TAVARES – Falando nisso, a internet, tanto como fonte de informação quanto como meio de sua transmissão está, de certa forma, configurando um novo rádio. Como sobreviver diante dessa realidade?

GEOVANNE SANTOS – Principalmente estudar. O profissional da comunicação que opta por estacionar no tempo, no tocante à atualização de sua bagagem intelectual, de sua formação técnica – porque é necessário aliar a formação técnica... O uso do instrumento é importante, mas principalmente um cabedal de conhecimentos sobre a própria História do lugar onde se vive... e aí nós traduzimos de maneira macro isso, não apenas no município, no Estado, mas no próprio país, compreendendo também a conjuntura internacional, porque o bom radiojornalista é instado a falar sobre todos os temas a qualquer momento. Como eu disse no início desta conversa, somos treinados no batente, somos forjados no fogo, e aprendemos por meio disso a improvisar muito bem. Minimamente, eu diria.


EDSON TAVARES – De que forma é construída a credibilidade do jornalista que opina, no

rádio?

GEOVANNE SANTOS – Principalmente sendo sincero ao ponto de dizer que

"É necessário estar aberto ao debate, e, no mínimo, ouvir o contraditório."

imparcialidade, em Jornalismo, não existe. Eu diria até que não existe em lugar nenhum, mas, no nosso campo discursivo em específico, no campo da comunicação, não há essa neutralidade, como, historicamente esse discurso se retroalimentou, por inúmeras razões que não vou abordar aqui. Informando ao ouvinte que existe uma diferença entre ser imparcial e ser isento. Eu opto por isenção. Na isenção eu busco, ou adoto uma postura de parcialidade, mas respeito outras visões diferentes das minhas, nos mais diversos temas, e busco ali tentar realizar o debate. A opinião final caberá ao ouvinte formar.


EDSON TAVARES – Como você enxerga a forma como está sendo feito o radiojornalismo opinativo na Paraíba, em que se percebe um flagrante embricamento com a política partidária? Como manter o necessário distanciamento de um partido político, para a emissão de uma opinião sensata?

GEOVANNE SANTOS – A sua pergunta é extremamente perspicaz e eu diria, de todas as realizadas até aqui, aquela que me permite dizer que a mídia – e em específico o rádio, esta que nós estamos abordando nesta entrevista – está nas mãos de cinco ou seis pessoas no Estado, que detêm todo o poder, numa coisa que eu acho extremamente danosa, que é a formação de rede. A formação de rede apaga os nossos regionalismos, acaba com as diferenças e pasteuriza principalmente aquilo que vai ser levado, enquanto notícia, para os diversos rincões do Estado. Neste momento, o que acontece? A linha editorial da empresa passa a adotar discursos políticos partidários até, o que não é de todo ruim. Nós precisamos compreender que comunicadores são pessoas como outras quaisquer. Podem, inclusive, ser filiadas a partidos políticos. Todavia, o bom senso leva-nos a dizer que, mesmo que você seja de uma linha conservadora ou de uma linha progressista, é necessário estar aberto ao debate, e, no mínimo, ouvir o contraditório. O respeito ao contraditório cabe na Constituição, mas cabe também em um radiojornal.


"Aceito toda e qualquer crítica, desde que seja bem fundamentada."

EDSON TAVARES – Você acredita que um jornalista, no rádio, consegue se manter fiel a seus próprios princípios, independentemente do meio de comunicação em que ele esteja? Você acha que o meio de comunicação, por exemplo, que está nas mãos de um político permite a esse jornalista opinar de forma isenta, inclusive criticando o próprio partido ao qual pertence o proprietário da emissora?

GEOVANNE SANTOS – Não é um atividade fácil, porque, de per si, a cultura política, a nossa elite política é burra. Não é uma elite política que preza por valores democráticos. Isso é uma grande balela. Ela é extremamente voraz, no sentido de reter os meios de produção, para assim poder se perpetuar e se reproduzir. Todavia, evitando radicalismo e extremismo, eu digo que é possível se adequar. Não que você vá, obviamente – e isso não acontece apenas no rádio, mas em lugar nenhum –, bater de frente com o dono da empresa. Quem é doido fazer uma coisa dessa? Mas agora você pode, fundamentalmente, estar em um ambiente que não lhe causa tanto dano ao seu campo mental e emocional, e ali desenvolver uma boa atuação. Que o diga a própria equipe do Jornal Nacional, se nós formos falar num parâmetro nacional; ali, nós temos uma equipe que compreende a linha editorial da empresa, por exemplo, e a segue rigorosamente, optando, muitas vezes, inclusive, por não opinar, por entender que a notícia, por si, já vai falar.


EDSON TAVARES – Como lidar com a multiplicidade e por vezes até ferinos e mesmo desrespeitosos comentários de ouvintes/internautas que discordam de sua opinião?

GEOVANNE SANTOS – Eu aceito toda e qualquer crítica direcionada a mim, desde que não invada a esfera pessoal, porque, como eu disse, também sou um ser humano; então, tenho meu conjunto filosófico, meus ideais de vida, e por aí vai. Me pauto, e eu tenho que ser bastante legalista, porque a atividade de comunicação hoje precisa minimamente estar atrelada ao cômputo constitucional. Eu tento segui-lo rigorosamente. Então, é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato. Você pode criticar quem você desejar, pode fazer a acusação que você desejar, contra quem você desejar. Agora, saiba que, se você estiver difamando, caluniando ou injuriando, irá necessariamente responder, e mesmo que a Lei de Imprensa tenha sido revogada, há mecanismos no Direito Civil que habilitam aquele que foi ofendido a buscar reparação junto ao veículo e junto ao profissional. Aceito toda e qualquer crítica, desde que seja bem fundamentada.


"O bom radiojornalista é instado a falar sobre todos os temas a qualquer momento."

EDSON TAVARES – O rádio, como qualquer outro meio de comunicação, é tido como formador de opinião. Você se vê como alguém que consegue formar a opinião de alguém, e que peso isso pode ter na pessoa Geovanne Santos?

GEOVANNE SANTOS – Essa pergunta que você faz, e esse trabalho acadêmico que estamos desempenhando aqui é algo que, se ficar guardado, e se daqui a dez anos for consultado, vai poder ser bastante estudado, porque não apenas o rádio, a própria tv e outras plataformas estão perdendo aquele status de detentora tão somente da formação de opinião, agora para uma plataforma como o Youtube. E o Youtube, por exemplo, por meio da comunicação de streaming, está trazendo uma nova realidade. Nós não temos apenas radialistas, jornalistas, publicitários, educomunicadores; agora nós temos youtubers. Inclusive, em Campina Grande, é possível fazer um curso de youtuber por cem reais. Já é uma profissão é é uma profissão louvável até. A forma como eu me porto na minha condição profissional impacta bastante no cidadão Geovanne Santos, porque – volto a dizer – quando estou sozinho, longe dos meios e da mídia, sinto falta de estar em interlocução com a população. Por interesses pessoais e principalmente por interesses profissionais, porque a gente precisa fazer a feira.


EDSON TAVARES – Deixei de fazer alguma pergunta sobre algum assunto que você gostaria de abordar?

GEOVANNE SANTOS – Um assunto que eu gostaria de abordar... Eu acho que a própria parte discursiva do veículo rádio, que, hoje, não apenas adota uma postura sensacionalista ou policiaresca, trazendo informações que apenas maculam a imagem das pessoas, mas uma multiplicidade de discursos. O próprio discurso político está ali presente – foi, inclusive, tema do meu trabalho de conclusão de graduação em Comunicação Social –, o próprio discurso da educomunicação, que está muito presente... E uma coisa, Edson, que eu preciso

"A forma como eu me porto na minha condição profissional impacta bastante no cidadão Geovanne Santos."

dizer, até pedindo desculpas, porque eu prometi a mim mesmo que, em todos os espaços que eu ocupasse, para falar sobre Jornalismo, eu iria dizer isto: jornalistas não são maiores que radialistas, radialistas não são menores que repórteres, educomunicadores não são menores que jornalistas... Nós precisamos acabar com essa categorização, que serve tão somente como uma nomenclatura – e isso é louvável, para uma própria codificação junto ao Ministério do Trabalho –, mas nós precisamos nos entender com o profissionais colaboradores de uma atividade fundamental. O Jornalismo profissional, neste momento que nós estamos vivendo no país e no mundo até, é imprescindível. Então, eu não compreendo como alguns profissionais acham o rádio um veículo menor ou a televisão um veículo maior, ou o Youtube um veículo menor, e por aí vai... Precisamos acabar com esse separatismo e entender: todos, inclusive quem não tem graduação, são comunicadores. Basta ter talento.


[Fotos extraídas do vídeo]

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