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  • Foto do escritorEdson Tavares

ENCANTA-SE QUEM ENCANTOU COM O BARRO


Depois de um longo período internado, em tratamento coronário, Severino Vitalino, filho e herdeiro artístico do Mestre Vitalino, sai de cena. Ficam suas peças e seu legado.



Severino Vitalino, ao sete anos, já se encantava com os bonecos de barro que fazia. E até hoje. (Fotos: Pierre Verger e Acervo do Museu Casa do Pontal, Rio de Janeiro, RJ)

Visitar Caruaru implica conhecer o Alto do Moura, lugar mágico e real, povoado por artesãos do barro, tornados conhecidos no país inteiro – e até no exterior – pelas mãos hábeis do “deus do barroVitalino Pereira dos Santos. Sua humilde casa de tijolo aparente, hoje feita museu, transporta o visitante aos tempos do Mestre. Sem rebuscados recursos museográficos, sem luzes estratégicas, sem modernidade alguma: apenas alguns troços da família – a cama, o chapéu, a mesa, a colher de pau.



As mesmas pernas cruzadas do pai, Severino Vitalino (à esq.) manteve o legado do lendário Mestre Vitalino (à dir.). (Fotos: Arnaldo Carvalho e site www.teamocaruaru.com)

A um canto da sala, entretanto, a arte está viva, através das mãos de um homem de estatura pequena, que se agiganta, sentado sobre suas pernas cruzadas: assim como o dono daquela casa, com quem conviveu 23 anos, um artesão encanta os turistas, mas também os conterrâneos.


Ele é Severino Pereira dos Santos. Ele é Severino Vitalino. A habilidade nas mãos que constroem bois e cenas nordestinas, assim como o pai, só não é maior que sua simpatia, sua simplicidade, a atenção que dispensa ao visitante, contando-lhe histórias feitas de talento e barro.


O sorriso sempre nos lábios, acolhe a todos, agradece a visita. Impossível sair daquela casa sem lhe ter comprado uma peça e com ele tirado uma foto – que ele jamais se recusou a satisfazer o visitante que quer levar-lhe a imagem. Também impossível disfarçar a sensação esquisita (e boa) de volta no tempo, em que Severino Vitalino, o filho, mistura-se à figura do pai, Vitalino; em que o gato maracajá, primeira peça que Vitalino-pai fez, ganha vida pela arte do Vitalino-filho.


O Mestre Vitalino desapareceu há 55 anos. Permaneceu, entretanto, em sua fama, suas peças, sua banda de pífano, sua imensa contribuição ao nome de Caruaru, através dos tempos e dos lugares. Talvez nem tivesse plena consciência da dimensão de sua importância para sua cidade.


Seu nome virou até denominação de hospital (!), o estabelecimento que recebeu seu filho, em outubro do ano passado, que dele cuidou até o desenlace fatal, nesta segunda-feira – treze dias faltando para os 56 anos da morte do pai.

A um canto da sala, Severino Vitalino perpetua a imagem do pai, Mestre Vitalino. (Foto: Portal do Artesanato de Pernambuco)

Severino Vitalino, aquele simpático senhor de 78 anos, que sabia receber como poucos, como só os humildes são capazes de fazê-lo, não mais será encontrado sentado sobre as pernas, naquele canto de sala. Severino Vitalino agora não encanta mais seus inúmeros visitantes com o fazer de sua arte, “ao vivo”. Severino encantou-se; a estrela do barro virou estrela imaterial dessa constelação de grandes artistas, do tamanho dos Mestres Galdino, Manuel Eudócio, Zé Caboclo, e do maior deles: Vitalino.



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