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Deus, assessor político

  • Foto do escritor: Edson Tavares
    Edson Tavares
  • 13 de jun. de 2024
  • 2 min de leitura


Quando o “Provoca”, da TV Cultura, ainda era “Provocações”, seu genial apresentador, Antonio Abujamra, perguntava a cada um dos entrevistados: “Quem fez mais mal à humanidade – a igreja ou os bancos?” Obviamente, não pretendo comparar, mas registrar o quanto a ideologia religiosa, principalmente no Brasil e nos últimos tempos, tem embotado a mente das pessoas, impedindo-as de raciocinar minimamente.

 

Numa nação marcada pela secular desvalorização da educação, pela ojeriza da elite à conscientização crítica, e a consequente ingenuidade conceitual da massa popular, as igrejas (cristãs) encontraram fértil terreno para imprimir seus dogmas e se transformaram, muitas delas, em rentável negócio. Além disso, na ânsia de cada vez mais se firmarem, entraram firme na política partidária, elegeram verdadeiras aberrações humanas, e hoje o Congresso Nacional brasileiro é um reduto dos mais exóticos, que poderia não passar de bizarra atração de horrores e humor, não fossem tão decisivos para, através das esdrúxulas leis que inventam, criar situações cada vez mais retrógradas para a sociedade brasileira, garantindo assim a perpetuação da espécie de obedientes e alienadas ovelhas.

 

A bíblia, Deus e elementos religiosos têm sido usados amplamente para a ascensão e a manutenção do poder. E para se esquivar dele também. O candidato à (praticamente garantida) reeleição, estremece o cenário político da cidade ao anunciar sua retirada da corrida. O consequente rebuliço foi natural. Entretanto, era preciso que o choque fosse definitivo e então engendrou-se uma corajosa estratégia, digna de registro, ainda que óbvia. O pré-candidato justifica tal decisão com uma suposta conversa prévia com ninguém menos que Deus – e aí ele garantiu o impacto, eximiu-se de explicações prosaicas (quem contestaria a divindade?), e, com base no aumento do número de seguidores, não faltou quem afirmasse ter ele saído do episódio “muito maior do que era”.

 

Ao colocar a decisão nas mãos de Deus, atropela qualquer tipo de reação da oposição, que não vai arriscar contestação – sequer observação – se a grei, da qual também depende na eleição, foi completamente cooptada pela bombástica declaração. E não se trata de uma mera desistência, mas de uma estratégica saída, deixando tudo arrumado, para não se perder o controle da situação: candidato a prefeito e a vice praticamente definidos. Estes podem até não terem sido fruto dessa “conversa” com o assessor, mas decerto assim serão vistos pelo rebanho religioso.

 

Como a política está cada vez mais sendo feita sobre o alicerce da emoção de rebanho, que da racionalidade, foi mesmo um golpe de mestre. Também não é todo político que pode se dar ao luxo de ter um assessor desse calibre...

 
 
 

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